CRUCE

A série CRUCE desenvolve uma reflexão simbólica e material em torno da oliveira invocando esta árvore milenar como corpo submetido ao tempo, à violência e à transcendência. Articula pintura e desenho a partir de elementos primordiais — cinza, carvão, madeira queimada e pregos — instaurando um campo de tensão entre matéria e espírito, destruição e regeneração.

Em obras como Sete tábuas para uma cruz, a madeira surge como signo ativo da dor ao ser suporte e sujeito: a cruz é feita da própria “carne” da árvore, evocando não apenas o ícone cristão da crucificação, mas também os múltiplos ciclos de destruição e resiliência inscritos na paisagem mediterrânica.

CRUCE convoca, assim, uma reflexão sobre a persistência dos rituais de sacrifício — históricos, familiares, culturais — e questiona o papel da arte na elaboração dessas memórias interpelando o espectador a partir de uma poética densa, onde a imagem sagrada é desconstruída e lhe é dado um novo significado.

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Que redenção procuras

Que todos os dias

Perpetuas

Os sacrifícios humanos

Dos teus avós?

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Que pecados

Que sina

Que fado

Terrível e obscuro

Encerra a tua Memória?

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Porque continuas

Erguendo altares

E a que terríveis

Deuses sedentos?

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M. Joaquina Conceição