Destruição das Cidades (2016-2023)

Na série Destruição das Cidades, Carlos Amado constrói uma reflexão plástica sobre a ruína como metáfora da condição humana e a cidade como corpo vulnerável, atravessado pelo tempo, pela violência e pelo esquecimento. Desenvolvido ao longo dos últimos anos, este trabalho parte de um olhar atento sobre a destruição das cidades, enquanto espaços físicos e entidades simbólicas, provocada pelos conflitos contemporâneos — da Síria ao Afeganistão, de Palmira à Ucrânia — criando a ponte entre mitos antigos e tragédias atuais.

A obra nasce do confronto com a imagem mediática — fotografias, vídeos e relatos, que o artista submete a um processo de reinterpretação através do desenho, da pintura, da gravura e da instalação. O processo criativo articula estruturas arquitetónicas como colunas, rosáceas e capitéis – vestígios da ordem - com malhas, escombros e fragmentos visuais onde o acaso e o gesto conduzem a uma poética da ruína.

As redes ortogonais funcionam simultaneamente como estrutura construtiva e campo de contenção, ecoando tanto os pixels da imagem digital como os esqueletos dos edifícios devastados.

A escolha de uma paleta austera e a ausência deliberada da figura humana acentuam um silêncio visual que não é vazio, mas intervalo - lugar de suspensão. Através desta série, Carlos Amado não procura a representação literal da destruição, mas a sua tradução simbólica — onde a ruína e o caos se transformam em linguagem avassaladora e poética.

Neste processo, o artista convoca não apenas a memória das cidades, mas também a persistência da barbárie, interpelando o lugar da arte face à dor coletiva. Destruição das Cidades apresenta-se, assim, como um território de tensão entre o testemunho e a sublimação, entre o que foi perdido e aquilo que permanece. Num tempo em que o horror é banalizado pelo consumo mediático, o conjunto destes trabalhos confronta-nos numa dialética entre a realidade e a ficção.